quarta-feira, março 30, 2005

Pogues - discografia completa reeditada

Já está disponível nas lojas, a reedição de toda discografia dos The Pogues.

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Estão disponíveis as reedições dos discos "Red Roses For Me"(1984), "Rum, Sodomy & The Lash"(1985), "If I Should Fall From Grace With God"(1988), "Peace & Love"(1989), "Hell's Ditch"(1990), e ainda os álbuns lançados sem o carismático vocalista Shane McGowan, "Waiting For Herb"(1993) e "Pogue Mahone"(1995).

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Estas reedições contêm vários bónus, por disco, como colaborações diversas com outros grupos.

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Punk Rock embebido em largas doses de música celta e um vocalista sempre bem embebido, foi o que fez história nesta banda tão peculiar...

1 Comments:

Blogger Billy said...

"The Pogues por vezes no paraíso, muitas vezes no inferno".

Artigo públicado dia 1 de abril de 2005, no Suplemento Y do Jornal O Público.

Podem ler o artigo em baixo...



Um mundo sem os Pogues é um lugar mais triste, mais conformado, mais cinzento, mais previsível.

Por isso, demos graças aos deuses da folk, do punk, da bebida e da algazarra fraternal, pois eles estão de volta.

Por enquanto, apenas alguns milhares tiveram o prazer de ver a banda de Shane McGowan na reunida formação "canónica" de 1987-1992, que em Dezembro deu uma dezena de concertos em Inglaterra.

Mas há mais:

a edição de "The Ultimate Collection", restrospectiva da carreira em CD duplo com 22 temas de estúdio e 22 ao vivo na Brixton Academy de Londres em 2001 (em breve pela Warner).

Para o fim do ano, está prevista uma caixa de raridades e inéditos. E, no que nos traz aqui mais especificamente, a reedição, já disponível em Portugal, dos sete álbuns de originais - versões remasterizadas e 36 bónus, temas em geral espalhados por lados B ou EP de difícil acesso.

Quem, ou o quê, eram os Pogues?

Antes de o serem, chamavam-se Pogue Mahone, palavras em gaélico, língua oficial da Irlanda, que em inglês significam "kiss my ass".

Após reparos do Parlamento da República da Irlanda, aceitaram reduzi-lo - mas foi a última concessão, como se verá mais à frente.

Na sua génese esteve Shane MacGowan, uma figura tutelar nos meios punks do final dos anos 80 em Londres - basicamente por ser vocalista dos The Nips, por ter tido a orelha mordida num concerto dos The Clash, e por escrever para o fanzine "Oh Bondage".

O recrutamento de Spider Stacy (voz e "whistle") lançou as fundações para o que viria a ser os Pogues - e uma carreira que teve tanto de brilhante e hilariante como de destrutiva e caótica.

As reedições são um "must", já que para além das notas, a um tempo profundas, picarescas e sentidas, dos jornalistas Gavin Martin e David Quantick, apresentam prefácios incisivos de amigos da banda - o cineasta Jim Jarmusch, os músicos Steve Earle e Bob Geldof.

E um colossal poema de Tom Waits, que define os Pogues: "Their music is like the brandy of the damned. The last pure hearts from Joyce, Dylan Thomas."

"Red Roses for me" fez em 1984 figura de extraterrestre.

Uma mistura de punk (via fúria, desprezo, bebida e marginalidade) e Irlanda (instrumentos, inspiração folk).

Música de festa mas também de vida em "squats" londrinos. De noites não dormidas, mas também de dias a ler poesia irlandesa.

Um poço de contradições que se sublima em temas como "The boys from County Hell" ou "Streams of Whisky" e que definiriam um caminho de punk-folk que acabou por ser estreito, pois poucos foram os seguidores.

"Rum, Sodomy and the Lash" (1985), segundo a famosa frase de Winston Churchill para definir a Marinha britânica, aperfeiçoa a mistura e apresenta como Shane no seu melhor como compositor.

Álbum variado, vai desde as típicas danças da Ilha Verde até instrumentais raivosos e a uma versão dilacerante de "Waltzing Mathilda", o clássico de Eric Bogle sobre um amputado da I Guerra.

Nos extras, a totalidade do EP "Rainy Night in Soho": o tema-título é uma das baladas sobre a amizade que MacGowan tão bem sabia escrever, e "Body of an american" mostrar o crescente fascínio pela América, terra da diáspora irlandesa.

A primeira grande quebra deu-se antes de "If I Should Fall From Grave" (1988), com a saída da baixista Cait O"Riordan, "raptada" e mais tarde casada com o produtor de "Rum, Sodomy...", Declan McManus, mais conhecido por Elvis Costello.

Os dois, Cait e Elvis, seriam destroçados em espanhol macarrónico em "Fiesta" - "Costello el rey del America y suntuosa Cait O"Riordan no rompere mes colliones" -, o primeiro êxito de vendas do grupo.

A meio caminho entre um bordel de Espanha (onde tinham estado a filmar "Straight to Hell" com Alex Cox, Joe Strummer, Courtney Love) e um bar de jazz nova-iorquino, era um corrida em ritmo frenético pela terra da desbunda.

Num álbum que começava a mostrar as derivas étnicas (sons orientais, arabizantes) surge o maior êxito do grupo, "Fairytale of New York", canção de Natal vista pelo lado de uma prisão e cantada a meias com a falecida Kirsty McColl, e provavelmente o mais profano dos hinos natalícios.

Pogues em velocidade de cruzeiro e à procura de novas inspirações. Nos extras, destaque para "Sketches of Spain" (brilhante título a piscar o olho a Miles Davis), dois minutos que conseguem reunir desde um acordeão balcânico a um trompete andino e percussão de aldeia bretã.
Por esta altura, o Governo britânico aprovara uma lei que impedia a divulgação de obras que apoiassem terroristas (tradução, o IRA) - e "Birmingham Six", ainda de "If I Should Fall...", foi uma das primeiras a ser atingidas.

Os Pogues responderam que continuariam a escrever sobre o que quisessem e esperavam que todos os outros artistas fizessem o mesmo.

E mais tarde veio a revelar-se que a canção era premonitória, pois os "Birmingham six" do título eram irlandeses condenados por um atentado terrorista que, veio o tribunal a reconhecer, não tinham cometido.

"Love and Hate" (1989) foi a base de um inesquecível concerto no Coliseu dos Recreios de Lisboa, numa das mais alcoólicas noites que a velhinha sala já viveu.

Banda e público estavam já toldados antes do primeiro acorde, e a partir daí foi sempre a piorar.

No álbum, as melodias continuam inspiradas, mas a acidez começa perder virulência.

Ataca-se a especulação imobiliária que deita abaixo as velhas salas e pistas de corridas de Londres.

Vai-se à Louisiana buscar a percussão e o "jingle jangle" de "Blue heaven", e "Misty morning Albert Bridge" é uma balada ainda a roçar o estado de raça.

Nos extras, o mais perto que os Pogues chegaram ao single de rock via Motown, "Yeah yeah yeah yeah yeah", e uma versão fiel, e debochada, na voz de Stacy, de "Honky tonk women", dos Rolling Stones.

"Hell"s Ditch" (1990), já com os multi-instrumentistas Philip Chevron e Terry Woods a bordo, é o "requiem" por Shane.

Nesta sua última participação, o vocalista, então já incontrolável, entre bebida, drogas e comprimidos, tenta levar a banda, que lhe fugia, para outros terrenos. A vertigem das músicas do mundo permite resultados diversos.

Por aqui rodam rastros, se bem que adaptados à verve dos Pogues, de sons do Japão, Indochina - "Summer in Siam" é um mantra quase budista, já "Sayonara" é apenas um pastiche levemente nipónico, com MacGowan a mal se aguentar nas palavras.

Mas a forte coluna punk folk ainda dava para temas roda e dança como o instrumental "Squid out of the water" ou "Jack"s heroes", dois bónus "bomboleantes".

Spider Stacy (que, não esqueçamos, fundara os Pogues com MacGowan) afirmou:

"Dizer que Shane era o espírito da banda é não perceber nada do assunto, e ouvir as pessoas sempre a dizer isso era parte do problema".

Mas estava errado.

Shane podia não ser todo o espírito, mas era uma grande parte dele.

O restante, dividido pelos que se mantiveram e compuseram "Waiting for Herb" (1993), serve como contraponto gritante.

Eis como se pode ter os as ferramentas (boa parte dos anteriores temas dos Pogues foram escritas por Jen Finer ou Stacy) mas perder a habilidade, a chama.

Sem o espírito que era Shane, não descolam, e as vozes mostram que não é ministro louco quem quer. Mas ainda era Pogues.

"Pogue Mahone" já não é um disco dos Pogues.

Apenas com Stacy, Ranken e Finer do original "line up", é doloroso de ouvir.

Fraco na composição, com um som roufenho e nevoento, é uma manta de retalhos sem alma em que apenas de aguentam "Living in a world without her" e "When my ship comes in", esta de Bob Dylan.

Para a história, estas são as últimas provas de estúdio de um grupo que foi fabuloso - e, pelas crónicas dos concertos de Dezembro, ainda o são em palco.

Mas independentemente do que venham alguma vez a fazer, o que deram à música nos década de 80 chega e sobra para os colocar no cânone das bandas singulares e marcantes, mesmo que sem prole imediata.

Pelo dom de McGowan com as palavras e os seus sons, expresso em "White City" - "Oh sweet city of my dreams, of speed and skill and schemes".

Pela capacidade de pegar em temas de base celta e os tornar em gritos de revolta urbana.

Pela forma como carregavam uma canção sem dar descanso a quem a ouvia. Diversão, desvario, cansaço, bebedeira - sempre com um livro de Joyce ao canto da cama.

Um percurso de vida em três minutos. Inimitáveis.

#
THE POGUES

Red roses for me
8/10

Rum, sodomy and the lash
9/10

If I should fall from grave
9/10

Love and hate
8/10

Hell"s ditch
6/10

Waiting for Herb
5/10

Pogue Mahone
3/10

Todos Pogue Mahone, distri. Warner

12:53 da manhã  

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