terça-feira, junho 15, 2010

Gazua "ContraCultura" - review

O que dizer de uma banda portuguesa que lança três álbuns em três anos consecutivos?

Para já que coragem, atrevimento e persistência são palavras-chave na atitude dos Gazua, porque no actual panorama musical nacional não se vislumbram grandes acções de marketing nem empenhamento total de editoras numa banda underground que permita grandes resultados...

Mas ao contrário do que possam pensar, os Gazua estão com os pés ´bem assentes na terra` e com uma noção precisa da realidade.Talvez por isso, tenham explorado uma parte já abordada no disco anterior ("Música Pirata") mas melhorada nesta edição, ou seja dedicaram-se novamente a apresentar uma imagem do suporte físico que atrai logo ao primeiro olhar.



A embalagem de "ContraCultura" cativa pela imagem central e pelos cartazes de concertos em redor, com alusão a bandas como Dead Kennedys, Suicidal Tendencies, Black Flag, Circles Jerks, Misfits, Iggy Pop e muitos mais, afinal influências musicais da própria banda.

No interior encontramos material personalizado dos Gazua, o dito CD, um pin, um patch, uma palheta, um autocolante e o flyer (com as letras dos temas, ficha técnica e muito mais).

Houve grande preocupação em mencionar (por imagens) pessoas que de algum modo se encaixam no perfil da ´ContraCultura`, o movimento que teve o seu auge na década de 1960 e que influenciou tanta gente (estudantes, activistas, artistas, músicos, políticos, cineastas e muitas personalidades) que ao questionarem os valores vigentes, contestaram o sistema, quebraram barreiras e enfrentaram grandes problemas.

Zeca Afonso, Michael Moore, Carlos Paredes, Patti Smith, Ghandi, Caetano Veloso, Joe Strummer, Jimi Hendrix, Wayne Kramer e Jello Biafra são alguns deles que surgem no flyer mas há muitos por (re)descobrir...

Mas como nem só da imagem vive o álbum, colocamos o CD em audição e "A Mudança Que Queres Ver" surge-nos em jeito de mote introdutório para todo o disco. Guitarrada e mensagem combinadas com bastante estilo servem de arranque.



"Preocupa-te" é um dos melhores temas do álbum, musicalmente tem um balanço incrível e a nível de letras, transmite mesmo um alerta a todos com o que nos rodeia e apela à participação e ao combate à apatia. Fica na cabeça, sem dúvida...

"Ele Já Não Respira" carrega no acelerador e arrasta-nos num ritmo frenético, sem paragens para respirar (lá está).

"Mais Significado" traz um ritmo diferente, mais pausado mas seguro e com uma mensagem directa, «há mais na vida e mais verdadeiro, que não se vê e não custa dinheiro» (ouve-se no tema).

Grande surpresa é "Morreu O Coveiro", faixa cantada pelo baixista Paulinho que em minha opinião facilmente nos traz à memória ritmos de uns Xutos da primeira fase e liricamente algo próximo dos Kú De Judas... em ritmo acelerado, cativa imenso e a voz do baixista encaixa que nem uma luva. Punk rock corrido e sem quebras.

Outra surpresa é "Chamando Urano", uma faixa bem diferente do ´universo Gazua`, a nível musical introduz novos ritmos, especialmente fortes com o baixo e bateria a segurar boa parte do tema e com alguns devaneios de guitarra. Vai fazer muita gente estranhar... mas depois entranhar!

"Perigo Eminente" regressa às guitarradas e à melodia que é tão facilmente reconhecível nos Gazua.

"Corpo Oco" continua a toada e acelera mais o ritmo, com destaque para a guitarra...

Segue-se um momento introspectivo com "Divagueando", faixa totalmente instrumental.




O penúltimo tema é "Casa Dos Fantasmas", uma faixa extremamente radiofónica que nos traz o típico som dos Gazua em grande nível, junta novamente melodia e ritmo de uma forma fantástica, acreditem que após a primeira audição o refrão teima em não sair da cabeça. Facilmente vai ser eleito com um dos melhores deste disco.

No final há "Nunca Estou Satisfeito", outro bom momento com clara mensagem de insatisfação, liricamente faz-me recordar a temática de "Estou Além" de António Variações.

O disco termina com uma faixa-extra (colada ao tema anterior), um outro momento introspectivo. Este ainda mais (chega a ser pessoal mesmo), pois trata-se de um tema não cantado mas sim declarado por João Corrosão apenas ao som da sua guitarra.

Não foi escolhido para o fim por acaso, trata-se de concluir toda a ideologia apresentada no álbum, ou seja, a mensagem destilada ao longo dos onze temas em 43 minutos.

Os Gazua estão de parabéns! João, Paulinho e Corvo arriscam em apresentar neste terceiro álbum uma sonoridade ainda mais arrojada, numa mescla punk combinada com rock de intervenção, resultante de uma mudança desejada pelos próprios (com excelente destaque para a bateria e baixo seguríssimos) e de uma clara recusa em não repetir álbuns apesar desta sucessiva edição em três anos.

Caso raro na nossa discografia nacional, caso raro na atitude, postura e honestidade com que nos brindam com os seus temas.

Queremos mais num ´futuro próximo` (já se sabe, o ´outro` segundo Johnny Rotten, ´não existe`).




"ContraCultura"
CD 2010
Raging Planet/Compact Records


7 Comments:

Blogger Billy said...

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Fotos da banda por Cameraman Metálico

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3:00 da tarde  
Blogger Sheena said...

Parabéns pela excelente review, que transmite bem o carácter especial (e de facto raro no panorama nacional)do projecto musical dos Gazua e deste trabalho em particular.
E claro, parabéns e many thanks aos Gazua!

4:56 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

ainda não ouvi o disco mas pelo que conheço é excelente! parabéns à banda e tanbém ao billy.

9:19 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Sempre na gazua!

11:22 da manhã  
Blogger Billy said...

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Podem ouvir alguns temas online deste álbum em...


http://www.myspace.com/gazua





Contacto da banda:

gazuarock@hotmail.com



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2:39 da tarde  
Blogger Billy said...

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Podem ler uma interessante análise ao novo disco dos Gazua em...



http://crackinthecloud.blogspot.com/2010/06/uma-analise-de-contracultura-o-novo.html#comments



«Impõe-se desde logo um 'aviso à navegação': o texto que se segue não é uma review musical no sentido comum, mas sim uma análise crítica deste trabalho, fundamentalmente na sua vertente cultural e não estritamente musical...»



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2:24 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

bom disco. e excelente critica.

9:12 da manhã  

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